[WWW] Hania "Coração do Inverno" - Chapter 1 - North Gate

5 de Fevereiro de 1863, 7 horas da manhã, Oregon, North Gate.



O vento bateu forte. Era a gélida brisa do inverno. Do topo da montanha o vento
era mais forte. Um intenso frio. Mas não era um vento maligno. Era uma brisa
amigável. Era o vento do espírito de sua terra que ali estava. Estava do seu
lado. Estava o acompanhando. Sua jornada seria tenebrosa e o mais frio dos ventos
seria o seu único conforto. A subida foi longa e cansativa. Dias se levaram
para sair de seu vale natal. No meio das altas montanhas do oeste da América do
Norte. Era uma terra pacífica e isolada que sofria a cada dia com a invasão do
europeu que já tinha se fixado em toda a costa do oeste. Para aquele nobre indígena
os seus maiores inimigos sequer eram humanos, eram monstros europeus. Que
diferente dele não via seu poder espiritual como uma dádiva, eles viam como uma
maldição e usavam essa maldição para atormentar, não apenas suas pobres almas,
mas a de todos em seu caminho. Por tal motivo o simples garou estava em sua
jornada. Viu muito sangue sendo jorrado e agora partia para uma nova marcha.
Não era uma jornada apenas de vingança, era mais que isso. O nome de muitos de
seu povo estava agora em suas costas e todos esses nomes precisavam ser
honrados. Um fim precisava ser dado para a ameaça. A paz tinha que voltar a
reinar em seu vale. Assim sendo este abandonou o seu recanto e se tornou um
viajante, sabia que o inimigo vinha do noroeste e então os seguiu. Para tal
atravessou a grande cordilheira. O vento nunca foi tão duro como foi naqueles
dias de travessia. Todavia era compensador. A grande compensação estava na
vista. A mais bela de toda. Um enorme vale nevado que iria todo o caminho de
descida para o grande oceano pacífico. Era ali que o colonizador, o grande
inimigo, estava. Era para lá que o andarilho teria que rumar para dar um fim
para toda a dor das almas que ele carregava consigo. O topo da montanha ao qual
estava realmente possuía uma linda vista. Só que não era uma visão pura como a
de sua terra. Marcas humanas eram vistas. Linhas estranhas em troncos de
madeira cortando a vista junto com linhas de ferro cruzando o horizonte eram
possíveis de serem vistas. Nada fazia sentido. Só o vilarejo logo no pé da
montanha que parecia ser um lugar normal. Podia ser um outro povo ali. Mas
algumas coisas nunca mudam. Ou talvez o nobre lobo esteja enganado quanto a
isso. Mas o melhor é ir descobrir. O vento já estava muito frio e um descanso
seria interessante. Sem falar que em breve já deveria começar sua busca pelo
rastro do seu alvo. Era território inimigo agora. E era hora de descer a
montanha e adentrar no vale dos humanos. Conhecido como North Gate. Os portões
do norte. E o vento frio lhe dava boas vindas.

Depois de muito caminhar finalmente sou recompensado com uma das belas criações da Avó, há toda uma vastidão coberta de neve e das belezas puras e naturais que cobriam nossa terra pura. Por alguns instantes meu coração fica aliviado, eu que sou parte do grande espirito dessa terra me sinto belo e puro por compartilhar de tudo aquilo, mas... desde que tudo que nos é precioso fora invadido e violado, já não poderia mais comtemplar aquela terra da mesma maneira... até porque já não era a mesma terra. Os Wasichu haviam a transformado aquelas linhas de madeira e ferro deixavam isso bem claro. Volto minha visão para a vila e sei que no momento é para lá que devo seguir, tudo que há de bom ou de ruim em meu coração eu havia oferecido para o Grande Wendigo, devo ser sólido, frio e insensível como o próprio gelo e mesmo a beleza da arte da Avó não deveria mais me comover, não acontecerá novamente. Estou em território inimigo e caminho para o desconhecido, mas não temo, o vento e o frio são meus aliados e nessa terra de longos invernos é o que há de mais terrivel a se temer...

O vento o guiava pela colina. Era uma longa descida até o vilarejo. Cada passo que o índio dava percebia mais detalhes de civilização se aproximando. Caminhos abertos, sons de pessoas, sinos, gados. Não eram muitos detalhes, mas se podia ver se olhasse atentamente para todos os cantos da longa colina. Era um lugar vivo e o homem havia se fixado bem ali. Um vilarejo das montanhas. Era um lugar ainda puro dentro das terras invadidas. Claro que a pureza é relativa, mas podia-se ainda apreciar o cantar dos pássaros. Ao descer mais Hania adentrou em uma trilha feita provavelmente por ovelhas. Animais do “homem branco” menores que o gado. Só havia visto tal criatura uma vez andando dentro do vale. O nobre nativo já havia apreciado o gosto de sua carne, era um animal bastante suculento. Todavia não era a hora para caçá-los. Pois as primeiras casas eram vista. Eram muito espaçosas uma da outra, a única construção totalmente visível por entra as árvores nevadas era um depósito de lenha. Parecia pelo som que havia pessoas reunidas ali. Poderiam ser lenhadores.